Sempre alego falta de inspiração ou de tempo ou de ambos, o que não deixa de ser verdade. Isso não justifica, porém, a ausência absoluta disso aqui. Acho que eu sou mesmo assim. Absolutamente ausente e, na maioria das vezes, por acidente. Não é que eu não me importe. Por eu ter esse ranço incômodo de perfeccionismo, acabo pecando pelo medo de tentar. Se é para resultar em auto-frustração, melhor nem me apegar. Nem a textos nem a pessoas. Nem a dias passados nem futuros. Nem ao momento eu tenho o costume de me apegar. Desconheço a origem desse pânico, mas a existência é inegável. O que geralmente atribui-se ao homem, o medo de comprometer-se, é algo que me acomete desde sempre e não faço idéia de quanto tempo ainda há de durar. Sei que só agora isso comecou a me incomodar, a me doer profundo. Chega a latejar-me o cérebro. É possível que seja devido ao acidente de só agora ter me deparado com alguém tão parecido comigo nesse aspecto. É um tanto quanto assustador saber que outra pessoa me trata do mesmo modo como tratei as pessoas a minha vida inteira. Assustador demais, na verdade. Isso só prova que eu provavelmente não tratei as pessoas do jeito que elas mereciam. Culpo essa minha personalidade bizarra, que oscila entre extremos. Já fui chamada de relâmpago, de cubinho de gelo imprevisível. Alusões à frieza e à velocidade de saída sempre fizeram parte do meu imaginário de relacionamentos. Acontece que nem sempre está frio aqui dentro. O problema é que o calor fica retido e, pela válvula de escape, não sai nada além de aparente indiferença. Isso está me matando, pela primeira vez em anos. Qual é o problema comigo? Qual é o problema com ele? São, obviamente, perguntas retóricas sem solução, porque assim é a minha personalidade. Sem solução. Sou implícita e sempre achei que era bom ser assim. Não gosto de me imaginar óbvia, sem mistério. Além disso, nunca me apeguei a pessoas sem mistério. Só as pessoas de ausentes ou camufladas intenções me pertenceram ao pensamento um dia. Talvez só assim eu realmente me pertença. É.